quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Um email de Dener para Neymar

Reproduzo aqui um excelente texto escrito por Leandro Beguoci e publicado no Blog da Redação, do portal Fox Sports:


Meu querido Neymar,

O Garrincha está de prova. Aqui na eternidade, onde o gramado está sempre verde, o bandeira não erra e a torcida da China é maioria, só você e o Messi chamam tanta a atenção quanto o George Best e o Didi. O Puskas ficou todo orgulhoso quando você ganhou o prêmio de gol mais bonito do ano, que leva o nome dele. Mostrava para todo mundo sua jogada contra o Flamengo e dizia num português sem sotaque (milagres acontecem): é o meu garoto!

Eu digo para todo mundo, desde que te vi jogando com 14 anos, lá em Santos, que você nunca seria o Pelé. Você é um dos nossos. Primeiro foi o Garrincha. Depois, eu. Agora, você. Nosso negócio não é fazer centenas de gols para não ser esquecido. É fazer um, dois, talvez dez gols que sempre vão ser lembrados.  Você não sabe disso, mas a transmissão dos jogos das categorias de base do futebol do mundo sempre foi um pedido dos boleiros. Ele só foi atendido quando o presidente Kennedy interveio. Ele é americano, mas, como bom descendente de irlandeses, aprendeu a gostar muito de futebol. Ele é seu fã desde que você dava os primeiros tapas na bola. Ele lamenta muito que Freddy Adu não tenha um décimo do seu talento. 

Por isso escrevo esta carta. Sua rivalidade não é com Messi. É com a história. Não caia na pilha do Pelé porque pouco importa quem é maior ou menor agora. O que importa é como as pessoas vão se lembrar de você em 20 anos e quantas pessoas você vai inspirar por décadas sem fim. Eu e o Garrincha não sabemos mexer muito bem com o You Tube, mas o Steve Jobs, desde que chegou aqui, tem dado uma força. Você tem de ver a cara do Garrincha quando ele soube que a molecada vê os gols dele até hoje. É sensacional ler os comentários sobre o meu gol contra o Santos, em 1992. Aliás, repare na coincidência: é o mesmo ano em que você nasceu!

Ando preocupado contigo porque você anda caindo demais. Eu sei que os zagueiros pegam pesado, mas algumas das suas quedas são constrangedoras. Você tem de ver a cara do meu amigo Ziembinski, o homem que revolucionou o teatro no Brasil, durante o amistoso da Seleção com o Reino Unido. A cada queda forçada, ele batia com tanta força na mesa que os querubins tiveram de intervir. O homem detesta cena mal feita. Puskas também ficou chateado.

O meu ponto é: craque como a gente só cai quando não tem jeito.  O Garrincha apanhava mais do que o Chael Sonnen, mas tentava ficar de pé. Reveja os lances dele contra a União Soviética, na Copa de 1958. O Steve Jobs diz que está tudo no YouTube. Eu, quando joguei no Grêmio, senti na perna o que é o zagueiro gaúcho. Eu sei que os caras batem. Eu sei que não é fácil carregar um talento tão grande. A inveja é grande, o ressentimento é maior.  Mas as pessoas são lembradas pelo que fazem, não pelo que deixaram de fazer. Se você cai mais do que faz gols, será lembrado muito mais como o homem que nunca fica de pé do que pelo artista que você é.  

Por isso, faço um apelo: prefira o gol a queda. É uma das poucas coisas que você pode se inspirar no Messi, que não cai e faz até o Jorge Luis Borges gostar de futebol.  Jogue de pé. Fique de pé. E seja o primeiro homem da nossa linhagem a ser eleito o melhor jogador do mundo. Se você conseguir, é capaz até de adiarem o fim do mundo (que não será em 2012). 
Abraços com ousadia e alegria, do seu fã

Dener

Para ler a publicação original clique aqui!

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